RIOS
Carlos Sangab


Se os rios, morena
Dessem as costas para o 
mar
Que vazio, morena
Ficaria o fundo do mar

Não teria a sereia
Pra cantar um blues
Nem rolar na areia
Nossos corpos nus
O sol que à tarde 
esconde
Seu clarão no mar
Não veria onde
Ir se apagar
Seu amor, morena, é rios
E eu sou o mar
Vou ficar vazio
Se você não voltar

Se os rios, morena
Dessem as costas para o 
mar
Que vazio, morena
Ficaria o fundo do mar

Que seria da estrela
Que cair no mar
Vai bater nas pedras
Se despedaçar
A gaivota lá do alto
Não veria o azul
Só escuro e mato
Desde norte a sul
Seu amor, morena, é rios
E eu sou o mar
Vou ficar vazio
Se você não voltar

Será onde você deu de parar
Em 
que porto, praia, que 
mar?
Onde é que eu posso encontrar
Sei, 
o amor é capaz de mudar
O pólo norte para o sul
Pra ver o rio engolir o 
mar

EU PRECISO APRENDER A 
DIZER QUE TE AMO
Sangabe

Palavras
Tantas vezes traem
O sentimento mais 
profundo
Que a gente traz
Quando se diz: seja 
feliz
Será que disse o que se 
quis
Ou foi simplesmente
Formalidade que a gente 
tem

Palavras
Tantas vezes doem
Mesmo a mentira que o 
mundo
Atira contra nós
Olha, um olhar diz muito 
mais
Um beijo falso, esse é o que 
trai
E fatalmente uma infelicidade
De 
repente vem

Eu preciso aprender a dizer 
que te amo
Pra que acredites no 
palpite
Que a nossa vida aposta há 
anos
Penso que vais, mas logo 
vens
Peço assim: sai 
Tu não tá nem
E a noite cai, enfim
E nos abraça assim
Por entre os panos

A minha vida e os meus planos
Dentro 
de mim são oceanos
Onde o amor, barco de papel, 
vai se afundando
Sob o dilúvio de Noé se 
derramando

 

Ah! eu
No céu
Vestido de branco e rodando 
o chapéu
Se Deus
Quiser
Meu samba é o primeiro
O meu santo é fiel

Quando a bateria da escola destampa
O 
grito contido nas nossas 
gargantas
É o povo quem manda
Nas ruas, isto é
Lá na passarela o estandarte 
balança
E na arquibancada a galera 
levanta
Os olhos sorrindo, me 
aplaude de pé

Me deixa eu
Me deixa
Não mexa em mim
Me deixa
Eu só quero que aconteça
Um lindo samba no final

Me deixa eu
Me deixa
Me deixa aqui
Me deixa
Eu não quero que amanheça
Até 
chegar o dia de outro 
carnaval

Lá vem
No céu
O sol ressurgindo nas cores 
do mel
No chão papel
E os garis sorrindo
Fazendo escarcéu

Na mesma avenida enfeitada de 
ontem
Na quarta de cinzas a gente 
se esconde
Por trás da lembrança de uma 
mulher
E a fantasia que brilhava ao 
longe
Não tem mais poesia nas 
cores do bronze
Agora não brilha é um pano 
qualquer

Me deixa eu 
Me deixa
Não mexa em mim
Me deixa
Eu só quero que aconteça
Um lindo samba no final

Me deixa eu
Me deixa
Me deixa aqui
Me deixa
Eu não quero que amanheça
Ate 
chegar o dia de outro 
carnaval 
 

BEIJA-FLOR
Sangabe

Se eu fosse um beija-flor
Pirava por 
uma borboleta
Que vem quando o sol vai se 
por
Nas plantas lá do meu jardim

Brilhava 
minhas cores
E só fazendo piruetas
Botava em tua boca o mel
Batendo as asas mais de 
mil

E depois do cio
Banhava o corpo lá no sal do 
mar
Voava pelo azul do céu de 
anil
Debaixo do amarelo sol do 
sul

E sem perceber
O estranho amor que rola 
pelo
Curtia a vida e o tempo pra 
viver
Larvinha leve e livre pra 
voar

Borboleta, beija-flor
Um romance sem pudor
Violeta, furta-cor
Uma estória de amor

 NEGRA

Toda a força que vem de dentro 

A alegria no seu olhar 
Todo o senso da beleza 
No seu jeito de dançar 
Vem devagar, mas vem 
chegando
Na passarela ela vai 
passar
Essa negra e todo encanto
Com 
seu modo de gingar

Que oba, lá, lá, lá, lá, lá, 
lá, lá 
Que oba, lá, lá, lá, lá, lá, 
lá, lá 
Tanta beleza paga o quanto
Toda 
alegria vale o enquanto 
Da fantasia, o samba, o 
canto e o carnaval 

Todo ano fim de fevereiro
Pára 
o tempo e o lugar
Pra ver ela requebrando
Corpo cheio de luar
Minha gente esquece o 
pranto
Desce o morro pra desfilar
Os 
seus sonhos, os seus 
santos
Os seus panos pelo ar

Que oba, lá, lá, lá, lá, lá, 
lá, lá
Que oba, lá, lá, lá, lá, lá, 
lá, lá
Tanta beleza paga o quanto
Toda 
alegria vale o enquanto
Da fantasia, o samba, o 
canto e o carnaval

Lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá

Tanta beleza paga o quanto
Toda 
alegria vale o enquanto
Da fantasia, o samba, o 
canto e o carnaval

BRINCADEIRA DE 
IMAGINAR
Sangabe

Eu era um beija-flor
Você era o jardim
Se dava em cada flor pra 
mim
Me transformava em rio
Você fazia o mar Pra me 
beber até o fio

Eu era um trovador
Você era a canção
Que eu não cansava de 
escutar 
Mas quando eu fui pierrô
Você ficou de mal
E fez um grande carnaval

Brincávamos assim
Só de imaginar
Não tínhamos brinquedos
Nem peças pra brincar
Rolando pelo chão
E o tempo a se escorrer
Sem nem a gente perceber

Pequei, fui transgressor
Você virou prisão
E me trancava sempre lá
Pensava em ser navio
Você era o timão
Que dava a minha direção 


Um dia eu fui um rei
Você foi a plebéia
Que vinha ao reino 
mendigar
Mas me tornei amor
Você o coração
Que me fazia palpitar

Brincávamos assim, etc.

Tinha um brilho nos seus olhos
Lá 
no fundo do porão
Tinha um segredo
Vinha o medo, então

Fingia ser cabeça
Você era o chapéu
Se eu imitava um anjo
Você era o meu céu
Você era uma presa
Eu era o caçador
Mas eu não lhe matava
Eu só lhe dava amor

Você casa assombrada
E eu a assombração
Ninguém nos separava
No fundo do porão
Brincávamos assim
Só de imaginar
Não tínhamos brinquedos
Nem peças pra brincar

Um dia eu fui o tempo
Não consegui voltar
Você virou o vento
Onde é que foi parar?
Rolando pelo chão
A vida se escorreu
E a gente não se 
apercebeu

 Drinks
Zanzibar, Zanzibar
O bar e uma canção
Um garçom traz um bom
Com bastante anis
Um cantor faz um som
Como eu sempre quis
No violão me diz

Drinks
Zanzibar, Zanzibar
O bar e uma canção
Um batom, leve tom
Com sabor de gin
Um amor, breve amor
Que me faz feliz
Ao som de um bandolim

Me beija o sol
Manhã não faz surpresa
O odor no ar
De um amor a mais
Ficou pra trás
No mesmo bar

 Lua do céu 
Lua do mar 
Qual é imagem? 
Qual é real? 
Na loucura do amor ardente 

Qual das duas irá brilhar 

Quando 
as vejo 
Com um só olhar
O meu desejo
É de me afogar
Na leveza branca das 
nuvens
Ou na profundeza do mar


Uma vez no céu foi te procurando 

Uma noite um banho de mar 
Que 
o amor me pegou e foi 
pegando 
Um feitiço pra segurar 

O amor quando pega os olhos 
brilham
Como brilha a lua no mar
E se a nuvem encobre o seu 
trilho 
O seu brilho fica no ar
 

Quem se deixou 
levar
Pela vida como pena que a 
brisa
Carrega e derruba em qualquer 
lugar
Esqueceu de saber
Que o amor nos invade
E como o fogo que arde
Se não é cuidado também pode 
morrer

Vem, hoje anunciar
Sua vinda pensando que 
ainda
É motivo de festa no antigo 
lar
Já não tem mais porquê
Se cansou quem esperava
Pois as suas palavras
Vêm sempre embrulhadas
Só sabem dizer

Mentira
Mentiras
Mentira
Me tira 

AMAR AMAR
Sangabe

Se um grande amor se foi
Quê chorar?
Chorar não apaga a dor
O vento vai mudar
É só você sorrir
Deixar o sol se por
No brilho do luar
Que vem um novo amor

É imprescindível o amor
Seja lá do jeito que ele 
for
O beijo numa flor
O riso e seu sabor
Mão que mão sobrepor
No frio e no calor
É tempo de amor

De amar amar
Amar remar no mar azul
Arruar o mar
Soprar o mar
Rumar pro sul

BIRITA breve relato da 
vida de um homem comum 
Sangabe

Aquela birita no balcão do bar
Ninguém 
acredita, Foi tudo o que 
você deixou
Saindo de fina, esqueceu de 
pagar
O homem de cima Foi quem 
então chamou

O velho trajeto da oficina ao 
bilhar
É o que era por certo A 
certeza de tudo o que você 
poderia achar
E descobrir
Que a vida é batalha E só 
quem vai ganhar
Aquele que malha, que briga 

E persegue o seu lugar

Agora a morena queimada de sol
Não 
sabe se acena pra sorte de 
um novo amor
Antiga conversa filho e 
futebol
Ficou na promessa, se 
confundiu com a dor

Zé, a vida começa no começo 
do fim
E a gente atravessa do bom e 
do ruim
São coisas que a gente não 
sabe e precisa entender

É, quem pensa que sabe, não 
sabe nem cabe saber
O que vale na vida é o que 
se tem pra viver
E o resto que fica é ponto 
de interrogação

 

O menino vê-se 
Ante o céu e o mar 
Qualquer um desses 
Não pode abraçar 
Só fazer andar assim 
O que você tem pra mim 
Quem dera amar
O menino vê-se 
Quando a noite cai 
Um milhão de vezes 
Entre um riso e um ai 
Pra afastar idéia ruim 
Puxa o vento até o fim 
Quisera amar

A cidade é um avião 
Que navega pelo chão 
Quantas luzes, cruzes, velas 

Favelas tem a imensidão
O meu sol não faz verão 
Cada dia é uma estação 
Quanto medo, segredos velhos 

Mistérios guarda um coração
O 
menino vê-se 
Entre o bem e o mal 
Qualquer um desses 
Não sabe alcançar 
Só morrer até o fim 
Pra fazer você enfim 
Lembrar de mim

ERA PRA SER ASSIM
Sangabe

Todo rio correndo
Escorre pro mar
Passarinho nascendo
Já quer voar
Quando o fogo se queima
Uma luz vai brilhar
Toda força que teima
Um dia faz quebrar

Uma chuva chovendo
Que vai regar
A semente morrendo
Pra germinar
O sol se escondendo
Faz a noite chegar
O silêncio crescendo
Traz o amor pelo ar

Era pra ser assim
E a gente sempre se dar
A vida pra não morrer
Sem aviso
Aos pedaços pelos cantos
Incompleta e errante
Era pra ser assim
O amor nunca se acabar
Pra sempre deixar viver
Um sorriso
Os abraços sempre tantos
Os poetas e os amantes
Em paz

CIDADE SEM LEI
Sangabe

De noite a cidade dorme
O sono dos homens de bem
Enquanto os meninos 
correm
Na louca do vai e vem
Trazendo na cinta coragem e 
respeito
O amor tatuado na perna, 

braço e no peito
Os olhos da cor do sangue 

que rola no gueto
Os meninos vão

De oito, dezoito, de doze, dez
De 
trinta e oito

E quando os meninos somem
Na 
cidadela sem rei
Apavorando os homens
No grito fazendo a lei
Trazendo em segredo
Bobagem e brinquedo
Zuando na rua quem passa
Metendo o dedo
Fazendo maluca desgraça
Espalhando o medo
Os meninos vão

De oito, dezoito, de doze, dez
De 
trinta e oito

Galileu, já nasceu
Nunca viu escola
Com a vida aprendeu
Que o mundo rola
Pra um dia amanhecer
Fundo de sacola

Pra correr, Deus lhe deu
Pé com dura sola
Pra fugir da prisão
Que nunca demora
Pra morrer, muita fé
Quando for a hora 

Pira peão, vira avião
Revira no chão, outros 
virão

Quando um pé acerta a bola
Transforma 
o menino em Deus
Desfile em carrão, 
cartola
No mundo que agora é o 
seu
Trazendo no peito
Medalha, sem jeito
O rosto estampado em jornal, 
TV, satisfeito
Enquanto a batalha
Prossegue dura no gueto
Os meninos vão

De oito, dezoito, de doze, dez
De 
trinta e oito 

ÁGUA VIVA
Carlos Sangab


Esquentar o frio
Sem cobertor
Pleno solstício
Ao sul do equador
Seguir o brilho
Ver o sol se por
Ouvindo os trilhos
Nas curvas do metrô

Ah! me deixar voar
Ah! me deixar voar

Sentar no braço
Do Redentor
Correr o risco
Entrar num disco-voador
Ver o conflito 
interestelar
Soltar um grito
E despencar do ar

Ah! despertar no mar
Ah! despertar no mar

Te querer não querer
Te querer te deixar

Água Viva
Me queima com ardor
Na pele aviva
A chama do amor
Mais que um sonho
Um filme de terror
Que vem estranho
Em meio ao meu suor

Te querer não querer
Te querer te deixar



 

Quanto tempo é muito 
pra você
Para juntos na noite se 
perder
Quanto mais eu posso
Mais eu quero ter

Quantas horas me restam pra 
entender
Que lá fora o sol já vai 
nascer
Se me lembro eu forço
Para esquecer

Quantas noites vazias vão passar
Pra 
esse dia de novo então 
chegar
Ter você no colo
E amar você

Nua muito linda
Noite maravilhosa
Lua amarela
Na nuvem cor-de-rosa
Brilha na janela
E acende o corpo de você

Tudo é mais bonito
A flor é mais cheirosa
O céu tem mais estrelas
Nos olhos de quem gosta
O mundo é colorido
Quando estou perto de você 

DE NOVA IORQUE
Sangabe

Céu nublado
Vento do sul
Um belo azul
Depois de um frio no 
avião
O pouso e toda a sensação
Das 

luzes da Grande Maçã

Céu nublado
Vindo do sul
Blusão azul
Na rua abraço a multidão
Mil faces e vozes vêm e 
vão
No vento frio da manhã

Quando a noite vem sinto saudade
De 

abraçar você e a cidade
Me seduz, quanta luz

E da lanchonete da estação
Mando 

um SMS com emoção
E cadê você não 
respondeu
Acho que meu sinal se 
perdeu

Na Quinta Avenida eu ouço um 

blues
E grito bem alto: I love 
you
Mas 
cadê você pra me ouvir
A 
centenas de milhas daqui

Eu pensei em voltar

Céu nublado, etc.

Quando a noite vem sinto saudade
De 

abraçar você e a cidade
Me seduz, quanta luz

E da lanchonete da estação
Mando 

um SMS com emoção
E cadê você não 
respondeu
Acho que meu sinal se 
perdeu

Na Quinta Avenida eu ouço um 

blues
E grito bem alto: I love 
you
Mas 
cadê você pra me ouvir
A 
centenas de milhas daqui

Eu pensei, eu tentei telefonar
De 

um orelhão no Central 
Park
Só tocou e ninguém atendeu
Onde 

é que você se escondeu

Do Empire State último andar
Vejo 

a cidade em meu olhar
Parques, avenidas, a 
construção
A estátua colorida, que 
emoção 
Até jantei no Harlem

Aqui é bom viver
Melhor se você pudesse 
estar
Tudo fica triste sem você
Seja 

em Nova Iorque ou 
Guarujá 

Dentes sorrindo um 
rosto na janela
O céu azul em cor
Sempre ouvindo o sino da 
capela
Correndo o campo em flor
Todo dia a folia era 
aquela
Na rua João e foi ...

Peito se abrindo ao vento feito 
vela
Até o sol se por
Sujo de tinta como numa 
tela
Cortando o pé sem dor
Todo dia a folia era 
aquela
Na rua João e foi ...

A bola, o muro, o morto, o pé 
no rio
O pito e a surra que levou À 
noite o quarto escuro, um 
calafrio O vulto que passou 
As pernas de Maria viu No 
sonho e nem toda a vontade 
se acabou

Dentes sorrindo um rosto na 
janela
O céu azul em cor
Sempre ouvindo o sino da 
capela
Correndo o campo em flor
Todo dia a folia era 
aquela
Na rua João e foi ...

O velho pipa que um dia perdi 
Um vento forte carregou O 
moço que morreu ali O trem 
que viu e não parou A 
história que não me esqueci 
Da rua que só da saudade não 
passou

Era, um mundo cheio de sabor 
De fantasias multicor Onde o 
sonho e só Sempre entrava e 
o sol Transpirava o amor

Dentes sorrindo um rosto na 
janela
O céu azul em cor
Sempre ouvindo o sino da 
capela
Correndo o campo em flor
Todo dia a folia era 
aquela
Na rua João e foi ...

Um dia o mundo acordou vazio 
Toda a folia se acabou O 
pito nunca mais ouviu O chão 
abriu e se calou O rosto 
fugiu da janela Na rua a 
casa se fechou Maria andou 
com suas pernas E o rio, 
veio a poeira e secou

Era, um mundo cheio de sabor 
De fantasia multicor Onde o 
sonho e só Sempre entrava e 
o sol Transpirava o amor

O TREM DA 
CANTAREIRA
Carlos Sangab

O trem não vai sair dos trilhos
O 
viajante intranquilo
Lá na vila do itororó
Espera o trem que vem 
vazio
Enferrujado e sem brilho
E no frio viajando só

Sobe a Cantareira
Acorda a vila inteira
Queima a roupa no varal
Traz lá da Roseira
A água para encher
A bica no nosso quintal

Quanto tempo ali passando
Na 
passagem carregando
Tanta gente pra lá e pra 
cá
Mas o mundo foi girando
E o vento foi soprando
Seu apito pra longe de 
lá

Sobe a Cantareira, etc.

O tempo foi que foi
Que só restou os dois
Na vida pra contar
O trem fugiu dali
E o viajante aqui
Só espera viajar

O moço que morreu na linha
Com 
certeza ele não tinha 
Uma pressa grande de 
chegar
Dizem que de manhãzinha
Sua alma branca alvinha
Pela linha inda caminha 
lá

Sobe a Cantareira, etc.

Fumaça levou Maria
Janela passa vazia
E o viajante lá no 
itororó
Só o que ele não sabia
Era que o trem um dia
Com certeza ia virar pó

Sobe a Cantareira, etc.

O tempo foi que foi
Que só restou os dois
Na vida pra contar
O trem fugiu dali
E o viajante aqui
Só espera viajar

Tamanduateí, 
Tremembé, Mandaqui
Santana, Areal
Carandiru, Pari
Quartel, Tucuruvi
E Horto Florestal

A HISTÓRIA DA 
CRIAÇÃO
Sangabe

A Natureza, amor Era uma paisagem 
e seu grande Criador Um Deus 
menino que sonhou Nos seus 
domínios e pintou Depois com 
a força do poder Pôs 
movimento e a vida se 
formou

O vento soprou As nuvens no 
céu A chuva caiu na terra 
feito um véu A água fluiu E 
a flor desabrochou Um 
pássaro abriu suas asas e 
voou O homem saiu do sono e 
acordou Viu a mulher e assim 
se fez o amor

O amor se expandiu O povo também 
O Eden abriu suas portas 
para além Os filhos de Deus 
vagaram pelos mares Unindo 
os Tupis, os Lusos e os de 
Palmares Um canto ecoou num 
som monumental E assim 
fizeram um lindo 
carnaval

PALAVRAS CRUZADAS

Meu passatempo
Faço palavras cruzadas
É a minha distração
Passo momentos assim
Sentado, um lápis na mão
Meu pensamento
Às vezes trava
Seu nome vem na 
imaginação
Eu pego, escrevo ali
E o resultado é não

Eu tentei decifrar, descobrir
Qual 
palavra que cruzava
Com o seu nome ali
Mas não sei, me cansei, me 
perdi
Que a palavra cruzada
Não se encaixava ali

Linhas cruzadas
Quantas palavras
Marcadas sem conexão
Que vão da esquerda pro 
fim
Às vezes na contramão
Duas palavras
Linhas cruzadas
Seu nome na imaginação
Na horizontal escrevo ali
E 
a vertical dá paixão

Eu tentei decifrar, descobrir
Qual 
palavra que cruzava
Como o seu nome ali
Mas não sei, me cansei, me 
perdi
Que a palavra cruzada
Não se encaixava ali

PARA SEMPRE

Foi você quem parou
De repente me olhou
E se aproximou de mim
Eu não pude evitar
De curtir seu olhar 
Um olhar tão gostoso 
assim

Tudo mais foi o tempo que foi
Os 
emails e mensagens sem 
fim
E depois, só ficar, por ficar
Para 
sempre 

Foi você quem falou
Prometeu, me jurou
Que amar ia ser assim
Bobo me entreguei
Tonto acreditei
No que você falou pra 
mim

De repente, nosso tempo parou
Numa 
casa, criança e jardim
Em você que brincou
De ficar e ficou
Para sempre

TODO DIA

Todo dia era dia de amor
Se fazia chuva, frio, 
calor
Quando vinha, sempre tinha
Beijo 
à beça e me peça
Que eu dou
Não sabia o que fazer pra 
agradar
E queria só viver pra se 
dar
E na vida só vivia assim
Nos braços dos seus

Todo dia alegria louvor
Bendizendo a fé 
Na paz do Senhor
E trazia na lembrança
Esperança de uma vida 
além
E dizia só quem crê vai 
gozar
A delicia que sofreu pra 
esperar
E na vida só vivia assim
Nas graças de Deus

É
Um grito diz: Pare 
Não paro, um disparo
Uma bala parou
Ajoelha sem jeito
Vermelha no peito
Uma rosa brotou
A vida num instante se acaba 
no asfalto e se vai

Né
Quem vai não se explica
O moleque é que fica
Chorando de dor
Apenas são cenas comuns 
desta vida
Vivida, sofrida, fingida

Todo dia era dia de horror
Sempre 
vinha medo, frio, pavor
E fazia a cobrança da 
esperança de uma vida 
melhor
E queria só viver pra 
gozar
A folia que pensava encontrar
E 
nas ruas só vivia assim nos 
braços dos seus

MÃE
Sangabe

Se era noite de frio
Me trazia a coberta na 
cama
Se eu sentia um vazio
Me abraçava com amor que 
inflama
Quando eu tinha medo
Sempre vinha e me dava 
coragem
E falava que a vida
Era assim como uma 
viagem

Quando me machucava
Ela me socorria 
Achando graça
Se eu chorava dizia
Não se assuste meu filho, 
isso passa
E depois que eu cresci 
E queria seguir os meus 
planos
Ela me disse um dia
Não me esqueça com o passar 
dos anos

Mãe 
Não importa o tempo e a 
distância
Nunca esqueço de ti
Sempre trago tua voz na 
lembrança

Mãe 
Às vezes ainda te chamo
Porque sempre assim
Guardo dentro de mim
Eu te amo

ABRAÇO DAS ÁGUAS 
Sangabe

QUIS O AMOR NOS JUNTAR
FEITO O RIO E O MAR
NO ABRAÇO DAS ÁGUAS
E PRA NO FIM TRANSFORMAR
MÁGOAS EM DESEJOS

FIZ PARA NUNCA LEMBRAR
UMA JURA DE AMAR
NO CALOR DE UM BEIJO
VI QUE LOUCURA FOI DAR
CAÍDO AO CHÃO DE JOELHOS

O AMOR QUANDO BATE
FEITO UM RIO QUE REBATE O 
MAR
QUANTO MAIS SE DEBATE
MAIS SE AFUNDA NA ÂNSIA DE 
AMAR 

SEU AMOR ME INVADE
FEITO UM RIO QUE SE EVADE DA 
FOZ
MAS MISTURA OS DESEJOS
FAZ DE MIM A METADE DE 
NÓS

ÁGUA VIVA
Sangabe

Esquentar o frio
Sem cobertor
Pleno solstício
Ao sul do equador
Seguir o brilho
Ver o sol se por 
Ouvindo os trilhos
Nas curvas do metrô

Ah, me deixar voar
Ah, me deixar voar

Sentar no braço
Do Redentor
Correr o risco
Entrar num disco voador
Ver o conflito
Interestelar
Soltar um grito
E despencar do ar

Ah, despertar no mar
Ah, despertar no mar

Te querer, não querer
Te querer te deixar

Água viva
Me queima com ardor
Na pele aviva
A chama do amor
Mais que um sonho
Um filme de terror
Que vem estranho
Em meio ao meu suor

SAMBA EM FAMÍLIA
Sangabe

Amanheceu na vila
O tempo vai ser bom
Lá fora o sol desfila
O céu azul é um dom

O velho depois do almoço de 
domingo
Reúne o povo no quintal
O filho pede a viola, agita 
o clima
Hoje tem samba em família
O 
dia é bem legal

Pega no cavaco, no pandeiro 
e na timba
Pega na viola, reco_reco e 
ganzá
Pega uma panela, uma lata na 
cozinha
Quem não toca, canta
Quem não canta vai 
dançar

A tia pede uma nota
O tio faz rima
O primo dá um ré maior
Sobrinho e neto largam da 
cartilha
Porque tudo está em cima
E o samba vem de cor

MEU AMIGO VELHO 
Sangabe 

Meu amigo velho 
Olha eu aqui 
Estava de passagem 
Te reconheci 
Apesar da ausência 
Quase não mudou 
Parece que o tempo 
Nunca te marcou 
Desculpe o mal jeito 
E a desatenção 
Melhor me expresso 
Com meu violão 
Mas aceito um trago 
Desfeitas nunca fiz 
Pra brindar o encontro 
Eu estou feliz
Andei por aí 
Bati, apanhei 
Caí, levantei, aprendi 
Amores vivi 
Perdi, encontrei 
Fugi, amei e sofri 
Mas não me arrependi, nem 
chorei 
Na verdade dei graças a Deus 

Dos tombos, as surras e a lição 

Que a vida me deu
Meu amigo velho 
Já vou caminhar 
Foi muito bom mesmo 
De te encontrar 
Cada qual no tempo 
Busca o seu lugar 
Dentro do meu peito 
Eu vou te guardar 
Mas nunca te esqueças 
Do que ficou pra trás 
Toma o meu abraço 
Leva e fica em paz 

Conversa Com O Espelho 

Sangabe _ Duda Mel


Espelho, espelho meu, diga
O que 
tu tá sabendo 
De toda essa intriga que a 
vida me 
deu 
Se fecho os meus olhos 
O reflexo continua sendo 
A 
falsa imagem que apareceu 


Espelho, é mentira 
O preto nos meus cabelos 

Há quem se admira 
Rejuvenesceu 
Mas lava essa tinta 
Os fios brancos aparecendo 

Não há quem desminta 
O velho que sou eu 

Ai, aí
Quanto tempo faz 
Que eu olho pra frente 
E me mostra pra trás 
Ai, ai 
Quem que não morreu 
O tempo é que fica 
Quem passa sou eu 

Espelho, as marcas, tatuagens, 
que a 
vida me deu 
Lembranças, memórias de tudo 
o que 
me aconteceu 
Gelado se cala 
Não sabe dizer quem sou eu 

Só me mostra na cara
O que o tempo escreveu 

Espelho riscado, quebrado, jogados 

os cacos no chão 
Em cada pedaço um traço de 
pura 
ilusão 
Que me deixa exposto 
E não fala da minha paixão 

O que se vê no rosto 
Não vê no coração