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O que é a fuga da realidade
Se não uma linda e florida posta do campo
Onde ecoa o som áspero da natureza
E o sibilo dos pássaros

Entre tantos conflitos
Uma escapatória
Entre tantos pesares
Um alívio

Quem dera fosse eu
Um homem do prado
Com seu alento cotidiano De um florido campo

A dor indolor aos olhos alheios
Que não se consome em nossos anseios
Não por livre espontânea vontade
Mas da existência humana , faz parte
Em algum momento , habita em nosso peito
Chama a saudade ou até mesmo a angústia
Daquilo que se teve e nao se tem mais
Daquilo que se viveu e ficou pra trás
São tantas as dores que afligem a humanidade
E sem ter como medir sua intensidade
Machuca por fora ou por dentro
Sem dó e nem piedade
E o alívio da dor nem sempre vem com a cura
Desperta sentimentos tristes
Nos leva a loucura
Muitas são as dores duradouras da alma
Muitas são as dores passageiras
Nem pra toda dor há um remédio na indústria brasileira.
Mas quando o remédio é o tempo
Ela ameniza , adormece e ressurge como um vulcão
Nos acompanha por toda a vida
Nos deixando a mercê de algum vilão
Simplesmente, nos fragiliza
Nos deixando numa inferior condição
Muitas das vezes, amargando uma persistente solidão.
Ainda assim , se vive?
Sim, meio que não.

Quando o inverno chegava
começava a plantação.
A picareta cavava
cada buraco do chão.
Em cada cova eu jogava
um caroço de feijão.
De longe minha mãe gritava:
Esfregue o pé pelo chão

Todo dia mãe fazia
o feijão de cada dia

Todo dia mãe fazia
o feijão de cada dia

Lá para os oitenta dias
o canivete apontava.
A vagem verde crescia.
Dava uma debulhada.
E mãe de longe dizia:
O almoço é feijoada
e de noite a gente come
carne seca com baião.

Todo dia mãe fazia
o feijão de cada dia

Assim, que o feijão secava
a colheita começava.
O lençol virava trouxa
e a vara debulhava.
A peneira, peneirava.
E o tubo transbordava.
E de longe mãe falava:
Como é bom plantar feijão

Todo dia mãe fazia
o feijão de cada dia

Ela nunca me dizia
o feitiço que fazia,
mas a minha teimosia
disse o que ela não dizia.
Numa panela de barro
sal, pimenta e pimentão.
Tacava fogo na lenha
pra cozinhar o feijão.

Todo dia mãe fazia
o feijão de cada dia

Do terreiro eu sentia
o cheiro que explodia,
pela panela saía
me chamando pra jantar.
Da cozinha perguntava:
O feijão já tá cheirando?
Era a nossa resistência
que mãe tava temperando.

Todo dia mãe fazia
o feijão de cada dia